São Paulo – Começou hoje (29) o trabalho de escavação do ossário clandestino do Cemitério da Vila Formosa, zona leste da capital paulista. Investigações preliminares mostraram que pode haver, no local, restos mortais de pelo menos dez presos políticos do período da ditadura.
O trabalho está sendo conduzido na presença de representantes do Ministério Público Federal em São Paulo, da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal e do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo.
Segundo o procurador regional da República, Marlon Alberto Weichert, o trabalho deve estender-se até sexta-feira (3), com a escavação de duas áreas distintas: a primeira, embaixo de um canteiro onde havia um letreiro do cemitério e a segunda, em uma quadra onde há registros do sepultamento de Virgílio Gomes da Silva e Sérgio Corrêa.
“De acordo com relatos, esta primeira área pode ser uma vala clandestina onde foram depositados, nos anos 70, ossos retirados de valas aqui do cemitério e não há registros disso nos livros oficiais. É uma possibilidade, tendo em vista a data, e que coincide com a vala clandestina do Cemitério de Perus, já que o Cemitério da Vila Formosa foi também um destinatário de corpos de desaparecidos políticos”.
Os trabalhos visam à confirmação dessa vala, a definição da data exata da existência do ossário, a verificação do estado das ossadas e como estão acondicionadas. No caso da segunda área, ainda é preciso terminar um levantamento que definirá a contagem das sepulturas e, possivelmente, terá que ser feita a exumação dos restos mortais. “É imprevisível quanto tempo demoraremos para fazer a identificação das ossadas porque dependemos de saber qual a condição desses ossos, se vai ser possível fazer a comparação e extrair DNA para confrontação”.
A localização das ossadas foi feita com equipamento de radar de solo, na primeira quinzena deste mês. Se confirmada a existência dos ossos, o material será encaminhado à Polícia Federal (PF) para que sejam feitos os exames de medição, para estabelecer o perfil da pessoa e de DNA, para identificá-la. Os trabalhos de identificação serão feitos no IML de São Paulo e, em seguida, o material será levado, para confronto de dados, ao Instituto Nacional de Criminalística da PF, em Brasília.
Segundo a procuradora regional da República de São Paulo, Eugênia Gonzaga, a busca no Cemitério da Vila Formosa poderá ser mais fácil, já que, ali, há uma câmara subterrânea com paredes de concreto de aproximadamente 9 metros quadrados. Ela acredita que haja muitas ossadas no local e, mesmo que não seja possível identificar de quem são, o trabalho terá valido a pena. “Mesmo que seja impossível identificar uma única ossada, vai ser possível cobrar as autoridades responsáveis para que façam um memorial e que fique registrado que este é o local onde estão repousando essas pessoas”.
Para a viúva de Virgílio Gomes da Silva, Ilda Martins da Silva, ainda que os ossos não sejam identificados, é preciso fazer um monumento em homenagem a todos os que morreram no período da ditadura. “Todos eles merecem nossa homenagem porque lutaram. É o início de um conforto, mas nunca será. Conforto seria se ele estivesse vivo, mas saber que podemos ter um lugar onde pôr uma flor, queimar uma vela, vir fazer uma homenagem qualquer é uma esperança. São 41 anos de espera”.
A coordenadora-geral de Combate à Tortura da Secretaria de Direitos Humanos, Maria Auxiliadora Arantes, disse que as buscas no Cemitério da Vila Formosa mostram a vontade de promover uma mudança e resgatar a verdade dos fatos ocorridos na ditadura. “Esse acontecimento aqui, hoje, abre o caminho para que ações como esta possam ocorrer em outros sítios onde se supõe que estejam enterrados nossos desaparecidos políticos”.
Agência Brasil
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