A falta de diálogo com os alunos e de investimentos financeiros e pedagógicos foram apontados pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro como fatores que contribuem para a propagação do bullying nas escolas. A conclusão foi apresentada após uma audiência pública realizada sobre o tema, nesta quarta (25), em que uma pesquisa do Instituto Informa, do sociólogo Fábio Gomes, mostrou que 84,5% dos estudantes do Rio já foram vítimas (40,4%) ou conhece alguém (44,1%) que sofreu agressões físicas ou psicológicas no ambiente escolar. Soma-se a isso ainda o fato de que cerca de 40% dos alunos não recebem informações sobre bullying na rede de ensino.
“Fica claro que a questão não é legislativa, pois temos quatro leis estaduais em vigor e mais duas em tramitação aqui na Casa sobre o tema. Quem comete a maior violência são os governos, que destroem os projetos pedagógicos e investem pouco em educação. Temos que ter uma infraestrutura de enfrentamento para esses novos tempos. O debate tem que ser permanente”, avaliou o presidente da comissão, deputado Comte Bittencourt (PPS), lembrando que além do Estado do Rio, apenas Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm leis contra o bullying.
A pesquisa do Informa foi realizada em abril e ouviu 830 alunos, entre 10 e 16 anos. O levantamento mostra que o problema é mais grave na rede municipal, onde os vitimados chegam a 90,2%, contra 82,8% nas escolas particulares e 72,7% nas estaduais. A mostra constatou, ainda, que em 93,1% dos casos não há nenhum tipo de assistência psicológica às vítimas. Durante a apresentação, o diretor do instituto lembrou que o bullying foi usado como justificativa por Wellington Menezes de Oliveira para matar 12 estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no dia 7 de abril. “Não se pode usar o fenômeno para justificar o injustificável, como foi no caso de Realengo. O hábito da violência escolar é antigo. É um problema velho com um nome novo. Só que, hoje, ele está inserido numa geração que busca o imediatismo, que não sabe lidar com os limites e que não sabe o que é um mundo sem globalização. Não sabemos ainda os efeitos disso”, disse Gomes, acrescentando que a pesquisa mostrou que apelidos pejorativos (42,7%), seguido por deboches coletivos (18,8%) e ofensas pessoais (13,7%) são os problemas mais comuns.
Das vítimas, 57,9% não reagiram às agressões, e 19% pensaram em vingança. No entanto, as chances de agressão física são maiores nas escolas municipais: 46%. Nas estaduais, o índice é de 40%, e nas particulares, de 33,9%. Já a comunicação da agressão não é feita por 67% dos entrevistados, por medo de represálias. E um dado positivo: 71% das vítimas de bullying superaram o trauma. Para os representantes da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), por exemplo, a superação do trauma pode estar no diálogo. “Desde 2009 desenvolvemos um projeto em que o tema é levado para dentro das salas de aula, dando a oportunidade ao aluno de apresentar soluções. Também desenvolvemos um projeto para atender os pais. O importante é dialogar, refletir sobre a prática. Não é criminalizando o problema que ele será combatido. A comunicação e o diálogo é que têm nos servido. Ano passado, atendemos 1.170 alunos”, revelou a assistente social da Faetec Adriana Melo, informando não ter ainda dados sobre a redução dos casos de bullying depois da implantação do projeto. Estiveram presentes na audiência a deputada Clarissa Garotinho (PR), educadores, representantes de sindicatos dos professores e da OAB/Niterói.
Comunicação Social da Alerj
Edição: Camilo Borges
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