Após algumas negativas, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o tráfico de armas, munições e explosivos no estado teve a primeira confirmação da atuação de policiais neste crime no estado. Ela foi dada nesta segunda (09) pelo juiz titular da Vara Criminal da Comarca de Itaboraí, Marcelo Villas, que levou à prisão, em 2009, dois policiais militares, um cabo e um sargento, sob acusação de fornecimento de munições ao tráfico. “Isso demonstrou que a nossa CPI está certa na investigação da fragilidade do Poder Público. Não adianta insistirmos em mitos, como o controle das fronteiras, quando o problema está muito mais próximo do que se imagina”, defendeu o presidente da CPI, deputado Marcelo Freixo (PSol). A partir do que foi relatado, o grupo aprovou o envio de ofício à Polícia Militar solicitando a relação de policiais autorizados a colecionar e recarregar armas e também dos que integram clubes de tiros. Foi aprovada também a convocação do comandante geral da PM, Mário Sérgio Duarte, e de uma visita ao depósito central de armas da corporação.
A partir de investigação iniciada em 2008, a Polícia Federal descobriu que Ricardo Paiol – chefe do tráfico de drogas do Morro do Turano, no Rio, e de favelas do Município de Itaboraí – contava com a ajuda do cabo da PM Ricardo Galdino para o desempenho de sua principal função dentro da facção criminosa à qual pertencia: de fornecedor de munições. E Galdino possuía todas as credenciais para isso: era armeiro – responsável pelas armas - no Depósito Central da Polícia Militar, em Niterói, que centraliza a distribuição de todas as armas e munições adquiridas pela PM; detinha a autorização do Exército para a prática de tiro esportivo – o que lhe conferia o direito de recarregar munições – e era colecionador.
O juiz, que condenou o cabo por associação para o tráfico de drogas, sugeriu “crivo rigoroso” e fiscalizações mensais nos depósitos pela Corregedoria Externa da Secretaria de Segurança Pública. Ambos foram condenados em 2009 a 32 anos de prisão. As investigações também levaram à condenação por venda ilegal de munição um sargento da PM, conhecido como Rocha, que era armeiro do 35º BPM (Itaboraí). Para Freixo, estes casos não são isolados. “Por que vamos acreditar que estes (policiais) são os únicos envolvidos nesta prática? Estes processos mostram que este problema pode ser muito mais profundo”, aponta.
Entre os dados que mais impressionaram os deputados está o de que o cabo, autorizado a fazer recargas, comprava insumos para a munição de uma empresa de São Paulo e os recebia por Sedex em casa, onde também fazia a recarga em máquina própria. “Galdino fornecia com sua autorização, concedida pelo Ministério do Exército, munição recarregada para traficantes”, resumiu Villas, acrescentando que ele também atuava como segurança do traficante. A partir destas informações, a CPI, aprovou o pedido da relação de policiais registrados como colecionadores e atiradores. “São condições importantes e que vão contribuir para a investigação que vem sendo feita”, argumentou Freixo, sugerindo que a contribuição dos colecionadores no tráfico de armas, salientada em depoimentos anteriores, poderá ser alvo de maior atenção do grupo.
Na próxima segunda-feira (16), o grupo irá a São Paulo visitar a fábrica da Companhia Brasileira de Cartuchos. Também participaram da reunião o relator da CPI, deputado Wagner Montes (PDT) e o deputado Flávio Bolsonaro (PP).
Comunicação Social da Alerj
Edição: Camilo Borges
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