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Referência na memória ferroviária do Brasil, o acervo do Museu do Trem, localizado no bairro do Engenho de Dentro, na zona norte do Rio, foi tombado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, em sua primeira reunião deste ano, realizada na última semana em Brasília. No entanto, os mais de mil itens da coleção, hoje sob a guarda do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), permanecem fechados ao público, ainda sem perspectiva de reabertura, embora esta seja a intenção da superintendência do órgão federal no Rio de Janeiro.
O Museu do Trem ocupa parte das antigas oficinas da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que chegaram a ser o maior conjunto de instalações desse tipo na América Latina. As oficinas da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, embrião da Rede Ferroviária Federal, contribuíram para a formação do próprio bairro do Engenho de Dentro. A maior parte do terreno é ocupada hoje pelo Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007.
“Nós ainda não temos uma estrutura administrativa para fazer o museu funcionar e, por isso, optamos, até por uma questão de segurança desse acervo, mantê-lo, infelizmente, fechado. É uma situação paradoxal”, afirma o superintendente do Iphan-RJ, Carlos Fernando Andrade, lamentando o fato de um acervo tão significativo não ser conhecido por cariocas e brasileiros.
A coleção abrange equipamentos ferroviários, utensílios, mobiliário e até locomotivas como a Baroneza, construída na Inglaterra, movida a vapor e a primeira a trafegar na estrada de ferro de Petrópolis, ferrovia pioneira do país, implantada pelo barão de Mauá. São destaques ainda um vagão usado pelo ex-presidente Getúlio Vargas e outro onde viajou o rei Alberto, da Bélgica, quando esteve no Brasil em visita oficial, em 1922.
Com o encerramento da RFFSA, em 2007, o Iphan herdou um patrimônio imenso, constituído por todos os bens de importância histórica e cultural pertencentes à empresa e que não estão operando. Os trens e as locomotivas ainda em condições de operação passaram para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Os trabalhos de inventário foram realizados por equipes multidisciplinares do Iphan desde que foi publicada a notificação do processo de tombamento, medida que resultou na proteção provisória da coleção pelo Poder Público federal.
Carlos Fernando Andrade reconhece que faltava ao Iphan-RJ estrutura para absorver o patrimônio herdado da RFFSA, mas admite que há estudos para a reabertura do museu. “Nós passamos a ter no nosso orçamento a rubrica preservação do patrimônio ferroviário do Brasil. Esperamos que este ano ainda a gente possa fazer alguma coisa.”
Para ele, no entanto, o local ideal para um grande centro de preservação da memória ferroviária é a Estação Barão de Mauá, da antiga Estrada de Ferro Leopoldina, na Avenida Francisco Bicalho, zona portuária do Rio. “Ali me parece ser o local indicado, porque hoje está completamente sem operação”, diz.
Embora seja sempre mencionada como local para o terminal carioca do futuro trem de alta velocidade (TAV), a Estação Barão de Mauá poderia também abrigar o local de memória, na opinião de Carlos Fernando Andrade. “O trem bala poderia usar somente parte da estação.”
É na estação da antiga Leopoldina que se encontra, em estado de abandono, uma parte do acervo da antiga RFFSA que ficou fora da coleção preservada no Museu do Trem. “Infelizmente, por conta da construção do Engenhão, algumas composições, mais recentes, foram levadas para a gare da Leopoldina e estão em péssimo estado, expostas ao tempo e sujeitas à depredação. Nós vamos ter que cuidar também desses trens”, promete o superintendente do Iphan no Rio de Janeiro.
Edição: Camilo Borges
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