Cerca de cem moradores de Santa Teresa, na região central do Rio de Janeiro, fizeram um protesto na tarde de hoje (28). O grupo caminhou pelas ruas do bairro, à frente do caminhão que rebocava o bonde que descarrilou e tombou ontem (27), deixando cinco mortos e mais de 50 feridos. Os restos do veículo foram levados para a oficina de bondes, próximo ao local do acidente.
Indignados com a falta de manutenção das composições, que são símbolo da tradicional região da cidade, os manifestantes carregavam faixas com a inscrição “segurança” e cobravam providências por parte das autoridades.
A professora Simone Reichel, moradora do bairro, contou que chegou ao local do acidente antes das equipes do Corpo de Bombeiros. Ela disse que dificilmente vai esquecer as cenas de desespero a que assistiu. “Tinha muita gente machucada, com criança. A gente queria ajudar, mas não podia fazer muita coisa porque as pessoas estavam embaixo do bonde. Essa lembrança vai ser um trauma difícil de esquecer”, disse, enquanto acompanhava, da calçada, o trabalho da equipe de peritos na manhã de hoje.
Simone relatou que a superlotação das composições é um problema frequente. “Aquele bonde estava superlotado, mas não era só ele. Isso sempre acontece, todo mundo sabe. Não adianta promover a região como ponto turístico se a infraestrutura não caminha junto. O fluxo de pessoas aumenta e a vida aqui vai se tornando inviável”, lamentou.
Já o guia turístico Raphael Santana, que também mora em Santa Teresa, disse que tirou o passeio de bonde do circuito que faz com seus clientes. “Desisti de fazer meus clientes esperarem até duas horas para conseguir embarcar no bonde. A fila fica enorme porque não tem composição suficiente, além do estado em que elas se encontram, sem qualquer manutenção”, contou.
Raphael lamentou a morte do motorneiro Nelson Correia da Silva, de 57 anos. Segundo o rapaz, ele era conhecido no bairro por sua cautela na condução do bonde. “Ele era o nosso melhor condutor. Sempre andava com cautela, com cuidado. Todo mundo aqui comentava isso”, acrescentou.
A Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa divulgou, hoje, uma nota em seu site, lamentando o acidente, que definiu como “tragédia anunciada” e não “uma fatalidade”. A entidade reclama do “abandono de um bem tombado” e da superlotação, que, a seu ver, é “fruto do número reduzido de bondes em operação”.
Edição: Camilo Borges
EBC
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