Integrantes do Ministério
Público fizeram mobilização hoje (24) em Brasília contra a imposição de
limites para o papel investigatório do órgão. A questão está sendo
discutida no Congresso Nacional, onde tramita a Proposta de Emenda à
Constituição 37, que dá poder de investigação apenas às polícias
Civil e Federal. Além de representantes do Ministério Público, o evento reuniu
parlamentares como senadores e deputados federais.
O projeto já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e por
uma comissão especial na Câmara dos Deputados. Agora o texto está
pronto para análise no plenário. "Há risco real de aprovação, a sociedade
precisa se mobilizar para dizer que discorda dessa alteração", analisou
o deputado federal Alessndro Molon (PT).
Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a proposta contraria o objetivo da
Constituição de combater a impunidade, ampliando os poderes dos órgãos
de controle. Segundo o senador, muitos crimes só vieram à tona por meio
da atuação do MP, como os fatos que levaram ao impeachment do então
presidente Fernando Collor, as apurações relativas à Construtora Delta e
ao contraventor Carlinhos Cachoeira e o episódio conhecido como
mensalão.
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, se
disse "preocupado" com a tramitação da PEC e afirmou que sua aprovação
será uma "hecatombe jurídica" para o país. Ele defendeu, no entanto,
regras mais claras para as apurações iniciadas pelo Ministério Público,
para evitar situações de arbítrio.
O evento também reuniu representantes do Judiciário, como o presidente
da Associação dos Magistrados Brasileiros, Nelson Calandra; da
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil e da Federação Nacional dos
Policiais Federais. Segundo o representante dos agentes da Polícia
Federal, Flávio Werneck, a PEC não tem o apoio da base da polícia e é
respaldada por interesse corporativo dos delegados.
"Hoje apenas 8% dos crimes são elucidados. Precisamos de reforma nas
estruturas das polícias e colaboração de órgãos especializados, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras e a Receita
Federal", disse. Segundo Werneck, o Ministério Público tem se colocado
como parceiro importante no apoio às apurações policiais.
EBC
Edição: Camilo Borges
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