A Comissão Parlamentar
de Inquérito instalada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro para investigar denúncias relativas ao tráfico de crianças
no estado irá fazer uma visita à Superintendência Regional da
Polícia Federal para pedir urgência nas investigações a respeito
do caso de Charlotte Cohen (veja depoimento abaixo), jovem que foi
levada à França nos primeiros meses de vida, vendida para uma
família francesa e que retornou ao Brasil recentemente para
descobrir suas reais origens. "Não temos dúvida de que estamos
diante de uma quadrilha. O depoimento da Charlote é muito rico de
informações e, além de solucionar o caso, queremos que ela receba
proteção de vida", afirmou o presidente da CPI, deputado Paulo Ramos (PDT).
Charlotte Cohen (foto), que, hoje,
tem 25 anos, relatou a via-crúcis que vem enfrentando para tentar
achar seus verdadeiros pais, assim como para responsabilizar os
responsáveis por ter sido traficada. "Tenho endereços,
telefones, nomes completos, todas as informações necessárias, só
falta as autoridades responsabilizarem aqueles que fizeram isso
comigo e com tantas outras crianças", afirmou em depoimento à
CPI, ressaltando que faz parte de um grupo na internet, onde conversa
com cerca de 60 brasileiros que passaram por situação similar.
Segundo Charlote, tudo foi feito a partir do Lar da Criança Menino
Jesus, em São Paulo, onde os supostos criminosos atuariam há
décadas. O local era um orfanato e se transformou em creche, mas a
jovem garantiu que os responsáveis são as mesmas pessoas.
"Este não é um
caso isolado. A pessoa que entregou essa criança pode ter feito isso
por caridade ou por pecúnia. De qualquer forma, é crime federal.
Além de vítima, ela é testemunha", frisou o deputado Luiz Paulo (PSDB), vice-presidente do colegiado. A jovem, que está
aprendendo a língua portuguesa, chegou à CPI através de uma
mulher, que preferiu não se identificar, e que se solidarizou com o
caso. Quando foi levada à França, em 1987, outro bebê
recém-nascido também foi adotado por outra família francesa. Além
da Polícia Federal, a CPI entrará em contato com a Defensoria
Pública da União, para que Charlotte receba atendimento jurídico
adequado. Além disso, colherá informações com a Organização Não
Governamental Desaparecidos do Brasil, que tem auxiliado a
franco-brasileira na busca por suas origens, e com a deputada federal
Andreia Zito (PSDB), que foi relatora de uma CPI no Congresso
Nacional para apurar o desaparecimento de crianças no País.
"Esse caso é
emblemático, pois se trata de uma pessoa que foi traficada com
poucos meses de idade, que busca, agora, saber a sua origem.
Esperamos que, a partir da resolução desse caso, se consiga
identificar essa rede de criminosos que, há anos, atua no Brasil,
cometendo crimes absurdos", ressaltou a deputada Cida Diogo (PT), membro da CPI.
DEPOIMENTO
Charlotte Cohen, 25
anos, formada em Letras
"Fui levada
para a França com poucos meses de vida e adotada por um casal
francês. Aos 16 anos, eles perderam a minha guarda e fui para um
abrigo. Mas, nesse período, já tinha certeza que eles não eram meu
pais verdadeiros. Quando achei uma pasta de documentos, aos 14 anos,
comecei a pesquisar sobre o assunto e fui descobrindo o esquema pouco
a pouco. Minhas documentações foram todas falsificadas. A minha mãe
brasileira na certidão de nascimento era ligada a pessoas que
comandam a casa, Lar da Criança Menino Jesus, em São Paulo. Ela
afirma que nunca teve filho e que fez isso para ajudar crianças
pobres. Espero saber a verdade sobre minha história. Quero saber a
verdade sobre minha mãe para poder ter paz. Mesmo que seja uma
história triste. Não sei se minha mãe verdadeira me vendeu, não
sei se me roubaram na maternidade... Quando eu tiver um filho, o que
vou dizer a ele? Preciso de respostas.”
Comunicação Social da Alerj
Edição: Camilo Borges
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