segunda-feira, 8 de agosto de 2011
EX-PM DO BOPE NEGA ENVOLVIMENTO EM DESVIO DE ARMAS E ACUSA CONCUNHADO
Acusado de envolvimento no desvio e na venda de armas e munições para traficantes, o ex-cabo do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) Mauro Lopes de Figueiredo negou, nesta segunda (08), participação nos crimes. Preso administrativamente desde o dia 19 de julho, Figueiredo – que foi expulso da corporação na última sexta (05) – depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro que investiga o tráfico de armas, munições e explosivos no estado. Apesar de negar qualquer participação nos desvios, ele afirmou acreditar na relação do seu concunhado, Alceli Coelho da Silva Júnior, com o tráfico.
Em ligações interceptadas pela operação que levou Figueiredo à prisão, Alceli Coelho, que não é policial, negocia a entrega de munições ao traficante Paulo Victor Petronilho, o “Gago”, que atua em Itaboraí. Embora alegando que não cabe à CPI julgar o acusado, o presidente da comissão, deputado Marcelo Freixo (PSol), destacou elementos dos autos do processo que indicam a participação do ex-cabo nos crimes. “Em uma das escutas, Figueiredo aparece avisando ao seu concunhado que haveria uma operação policial e que era para contar ao traficante. Então, há um elemento que materializa o possível envolvimento dele. E o Alceli, que o ex-cabo disse abertamente ter envolvimento – o que diversas escutas comprovam –, morava no mesmo quintal que ele”, citou.
Freixo salientou ainda as diversas citações de Alceli ao ex-policial em telefonemas para “Gago”. Em sua defesa, Figueiredo disse acreditar que o concunhado falava por ele para conseguir os negócios “de forma mais fácil”. O caso, desencadeado em julho por operação da Policia Federal e que já conta com 12 denunciados à Justiça por formação de quadrilha, associação para o tráfico, venda de armas e munições, é visto por Freixo como representativo do desvio que alimenta os crimes investigados pela CPI. “O que nos interessa é tentar saber como esse grupo de traficantes, cujo líder (“Gago”) foi preso em flagrante com uma quantidade enorme de armas e munições, tinha posse de cartuchos comprovadamente da PM”, destacou.
“É um caso em que continuaremos trabalhando, porque pode ser muito revelador para o que queremos entender do funcionamento do tráfico de armas e munições”, anunciou Freixo. A convocação de Alceli foi aprovada por unanimidade durante a reunião, que chegou a ser fechada para a imprensa e assessores para que o ex-policial dissesse aos deputados, em sigilo, o que ouviu de sua família sobre o envolvimento de seu concunhado com o traficante – o que ele afirma só ter sabido após a prisão dos dois pela Policia Federal. E deu uma informação que surpreendeu os membros da CPI: sua expulsão da corporação, dada como em tempo recorde pelos deputados, não foi causada por esta acusação, mas pela denúncia de uso ilegal de arma há dois anos.
“Havia outro procedimento, por porte ilegal de armas, e esta teria sido a razão, segundo seu relato, para a expulsão”, informou Freixo, para quem, no entanto, esta acusação de associação ao tráfico de armas para venda acelerou o processo. “Foi uma informação importante porque estávamos achando estranha a velocidade com que a expulsão tinha acontecido. É um outro procedimento, que envolve porte de arma ilegal, para, segundo ele, fazer segurança privada”, explicou. Alegando ser “impossível” desviar armas do Bope, pois “aquela reserva de armamento é uma das mais bem guardadas em todos os quartéis que já visitei”, Figueiredo, há quase dez anos na corporação, explicou aos parlamentares como é o controle do uso de armas e munições no batalhão: “Temos que dar conta de cada munição e arma retirada e do consumo do que foi gasto”, contou.
Segundo Figueiredo, nas apreensões, as armas são entregues ao superior para que sejam levadas à delegacia, “onde são rastreadas”. Perguntado pelo relator da comissão, deputado Wagner Montes (PDT), como seria possível controlar o número de projéteis usados, de tiros dados em uma operação, o ex-cabo disse que todos fiscalizam o trabalho “uns dos outros”. “No Bope, as relações são baseadas na confiança”, alegou ele, que negou conhecer o traficante “Gago”. Na próxima semana, a comissão receberá um ex-assessor parlamentar, já preso por envolvimento com milícias e tráfico de armas e munições.
Comunicação Social da Alerj
Edição: Camilo Borges
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