quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Dívida de pastor deputado com multas ultrapassa R$ 100 mil


São quase 600 infrações em 2 carros oficiais. Valor deve ser descontado no contracheque

A cada dois dias, uma multa. Assim tem sido a rotina dos carros oficiais à disposição do pastor deputado Edino Fonseca (PR) desde agosto de 2008. Dados obtidos com exclusividade por "O DIA" revelam que os dois veículos, cedidos ao gabinete do político e à Comissão de Economia, Indústria e Comércio da Alerj — presidida por ele — cometeram mais de 590 infrações de trânsito até este mês.

Considerando só aquelas às quais não cabem mais recursos — cerca de 380 —, a dívida com o Detran-RJ já ultrapassa a marca de R$ 100 mil. A farra das multas foi denunciada pelo "O DIA" no sábado. Nesta terça (18) o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, deputado Paulo Melo (PMDB), garantiu que o valor será descontado do salário do colega integrante da bancada evangélica.

“A responsabilidade pelo carro é do deputado que escolhe seu motorista. Não importa quem está dirigindo”, disparou Paulo Melo, que citou lei que permite o desconto em folha de até 30% do salário do parlamentar para quitar a dívida. Melo defendeu punição para todos os motoristas, deputados ou não, que acumularem 20 ou mais pontos na carteira, como determina o Código de Trânsito: “O Detran precisa fazer seu papel e fiscalizar quem excedeu os limites”.

Mau exemplo

Apesar de Edino ter 20 pontos em seu prontuário — sem contar os mais de dois mil referentes às infrações dos carros oficiais — o Detran-RJ não informou se abriu processo de suspensão da carteira do político.

O comportamento do parlamentar revoltou motoristas que seguem à risca a lei. “Como deputado, ele deveria dar exemplo e não atropelar as leis de trânsito”, indignou-se o motorista Paulo Roberto de Souza. Assim que foi notificado pelo Detran-RJ de que havia atingido 21 pontos, ele entregou a habilitação ao órgão espontaneamente e se matriculou no curso de reciclagem.

Tratamento diferenciado no Detran

Bastou uma carta do Detran-RJ avisando que havia ultrapassado o limite de pontos permitidos para Paulo Roberto de Sousa entregar sua carteira. Ele ficou quase um ano sem dirigir. Atitude bem diferente de Edino Fonseca.

“O que não consigo entender é por que eu recebi a carta e o deputado, não. Essa história de dois pesos e duas medidas nunca vai acabar quando se trata de um político e um cidadão comum ?”, questiona.

Colegas querem reembolso à Alerj

Edino Fonseca voltou nesta terça-feira a se isentar de culpa pelas infrações, das quais alega ter tomado conhecimento pelas reportagens de O DIA. “Irregularidades que eu tiver cometido serão assumidas, mas não posso me responsabilizar pelo que motoristas fazem quando não estou”, repetiu ao chegar na Alerj, de carona no carro particular.

A opinião não foi compartilhada por colegas. Paulo Ramos (PDT) e Graça Matos (PMDB), que integram a Mesa Diretora, anunciaram que, na reunião desta quarta (19), defenderão que ele reembolse o valor gasto pela Alerj com as multas. Autor da resolução que obriga a devolução, André Ceciliano (PT) bateu na mesma tecla: “O contribuinte não pode pagar”.

Nem a companheira de partido Clarissa Garotinho foi solidária: “O motorista ocupa cargo de confiança. O deputado tem que se responsabilizar”. “Se o motorista comete sucessivas infrações, o deputado é corresponsável”, emendou Luiz Paulo (PSDB).

Marcelo Freixo (PSOL) ironizou: “Certamente, ele não estava correndo para chegar cedo ao plenário, pois é dos mais ausentes”.

Edição: Camilo Borges
O DIA

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